terça-feira, julho 20, 2010

A (má) pregação do evangelho


Enquanto aguardava nosso delicioso jantar (no qual eu tenho pouca ou nenhum contribuição, devo dizer), resolvi colocar em um canal de TV aberta que aluga uma grande parte de seu horário para uma igreja que está crescendo rapidamente, tão rápido que chegou até perto de nós. Eles abriram um templo ao lado de nossa casa. Por tal proximidade, de vez em quando eu me interesso em ver um pouco da ministração de seu apóstolo principal. Também devo acrescentar uma situação que ocorreu quando estava conversando com alguns amigos sobre ministérios e expus minhas críticas em relação a esse. A principal é que eles não pregam o evangelho bíblico, mas sim prosperidade para essa vida. Meu amigo disse que não era verdade, que de vez em quando (???) eles pregavam sim o evangelho. Desse dia em diante, sempre me disponho a assistir um pouco das pregação para ver algum sinal do evangelho. Até o momento, em vão.
Mas quando coloquei no canal, percebi que o preletor da noite não era o famoso apóstolo, mas sim algum outro ministro. Não vi seu nome, mas pouco importa. Ele falava exatamente igual ao apóstolo e portanto, pude ter confiança que teria o mesmo tipo de mensagem. A tempo, o apóstolo estaria em Orlando, onde irá inaugurar um novo templo quinta-feira. Espero que ele tenha viajado de American Airlines.
Depois de um bom tempo de orações por doentes, libertação de pragas e maldições, macumbas, mau-olhados, mandingas e coisas do tipo, o preletor chegou na parte onde coordenava um tipo de ginástica bíblica, onde a pessoa colocava a mão na cabeça, depois no corpo, depois levantava para o ar e no fim jogava pra trás mandando todo as urucubacas pra longe. Isso tudo repetindo tudo o que o preletor dizia e repetindo “em nome de Jesus” como se fosse um mantra ou mesmo um frase de encantamento ou mágia que tornasse realidade o pedido feito simplesmente porque se usava essa frase.
Quando eu estava para desistir, o pastor finalmente chegou na parte da pregação. Finalmente eu poderia ver a mensagem do evangelho pregada nesse mega templo onde os desejos são realizados. Infelizmente, não o meu. Mas vamos por partes.
O texto chave (único na verdade) da mensagem foi João 15:5 “Eu sou a videira; vós sois os ramos. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”. O pregador começou a falar sobre a importância de estarmos em Cristo como nossa videira, de estarmos conectados com essa videira e que assim podemos dar frutos. Essa é a única forma de darmos frutos. Ele repetiu isso várias vezes, uma e outra vez, se certificando que as pessoas entendessem que era importante estar na videira para darmos frutos. E aí veio o momento crucial da mensagem, o momento que ele resolveu explicar o que eram esses frutos.
De acordo com o preletor, os frutos que vamos ver na nossa vida são saúde, dinheiro, resolução dos problemas familiares, sucesso, vitória. Por isso é importante estarmos na videira, para que possamos ter todas essas coisas materiais. Todas essas coisas pelas quais Cristo morreu. Opa, me desculpe, acrescentei essa última parte. A morte de Cristo na cruz não foi nem mencionada. Nem para validar os bens materiais.
Mas os que são os frutos que esse texto fala? São realmente as bençãos materiais anunciadas pelo pregador? Definitivamente não.
Jesus estava discursando para seus discípulos momentos antes daquele que seria o mais marcante de seu ministério. Poucos capítulos a frente, ele será preso e crucificado. Nas suas últimas palavras para seus discípulos, ele foca a importância de estarmos nele, estarmos ligados à videira, assim como um galho está ligado ao tronco. O galho não sobrevive sem o tronco. Também não dá frutos.
Esse texto nos diz sobre a perseverança dos santos. Aqueles que estão ligados à videira e produzem frutos são realmente salvos. Aqueles que não produzem frutos, não são genuinamente salvos e é lançado fora (João 15:7).
Os frutos são sinais de que aquele ramo realmente pertence à árvore. Um sinal de fé genuína. Veja abaixo alguns dos frutos que podemos esperar ver na vida de um cristão verdadeiro. Essa não é uma lista exaustiva, mas sim uma lista inicial:

Amor por Deus: Sal 42:1; 73:25; Lucas 10:27; Rom 8:7
Arrependimento dos pecados: Sal 32:5; Pro 8:13; Rom 7:14; 2Cor 7:10; 1João 1:8-10
Humildade genuína: Sal 51:17; Mat 5:1-12; Tiago 4:6,9
Devoção a glória de Deus: Sal 105:3; 115:1; Isaias 43:7; 48:10; Jer 9:23,24; 1Cor 10:31
Oração contínua: Lucas 18:1; Efe 6:18; Fil 4:6; 1Tim 2:1-4; Tiago 5:16-18
Amor altruísta: 1 João 2:9; 3:14; 4:7
Separação do mundo: 1 Cor 2:12; Tia 4:4; 1 João 2:15-17; 5:5
Crescimento espiritual: Lucas 8:15; Joao 15:1-5; Efe 4:12-16
Vida de obediência: Mat 7:21; João 15:14; Rom 16:26; 1 Pedro 1:2,22; 1 João 2:3-5
Fome pela Palava de Deus: 1 Pedro 2:1-3
Transformação de vida: 2 Cor 5:17

Veja que essa lista é bem diferente daquela apresentada pelo pastor. Se o que ele disse é verdade, então, devemos crer que Pedro, Estevão, Paulo e tantos e tantos cristãos pelos séculos deveriam ser considerados como filhos do Diabo e falsos convertidos, pois pelo padrão do pregador, eles falharam completamente. Assim como todos aqueles mencionados em Hebreus 11.
O que leva uma pessoa que se diz ministro do evangelho a pregar algo totalmente diferente daquilo que está nitidamente declarado nas Escrituras? Existem vários motivos. O maior acaba sendo sempre o financeiro. O que facilita isso é a ganância daqueles que buscam as bençãos vendidas e o analfabetismo bíblico do povo (e mesmo dos pastores) que aceitam toda e qualquer besteira dita nos púlpitos. Mas isso é assunto para outro post.
O ponto positivo de tudo isso (se é que podemos dizer isso) é que a mensagem durou apenas 10 minutos. Isso mesmo. Em um culto de mais de duas horas, o tempo destinado a Palavra de Deus durou apenas 10 minutos. Levando-se em consideração como ele tratou a Palavra, eu acho que foi tempo demais.

4 comentários:

VIVENDO AMANDO E APRENDENDO disse...

Sem comentários... :)
De vez em quando dá uma preguiça e até queria que fossem verdade as fórmulas mágicas e mantras gospel... mas no fim sempre me deparo com a resposta não muito mágica, embora milagrosa (pois muda caráter e destinos) e verdadeira (pois liberta), a resposta da CRUZ...

João Marcos disse...

Estou lendo um livro do John MacArthur ("Como obter o máximo da palavra de Deus")que coincidentemente trata um capítulo inteiro sobre o tema: "Como a Palavra nos torna produtivos". E gostaria de compartilhar (apesar de parecer redundante, pelo conteúdo e passagens bíblicas que nosso irmão Maurilo já colocou):

MacAthur descreve o que a Bíblia considera como fruto:
1- Um caráter semelhante ao de Cristo (Gálatas 5:22)
2- Louvor por meio da adoração (Hb 13:15)
3- Toda boa obra (Ef 2:10)
4- Pessoas levadas a Cristo
(João 4:35,36), mas ele faz uma observação: "o evangelismo e o testemunho pessoal devem ser resultados de permanecer nele e não um esforço humano legalista."

Valeu!! :)
Abraços...

Maurilo e Vivian disse...

Raquel, seria ótimo se essas fórmulas funcionassem. Como seria bom. Tem gente que acha que o cristianismo é um tipo de mandiga bíblica e vive assim. Mas nada mais longe da verdade. E nada mais longe da cruz.

Meu caro João.
Nada que venha de John MacArthur seria redundante. A lista que eu postei na verdade eu tirei da MacArtur's Study Bible.

José P.Nercelhas Júnior disse...

Olá parbéns pelo Blog! Cristo vos continue abençoando e inspirando. Estou te seguindo.
Visite-me em feeticaecidadania.blogspot e me siga também.
Forte abraço.

Nas escrituras, tirar os sapatos tem um significado muito especial. Quando Moisés teve seu primeiro confronto com Deus, Ele disse para que ele tirasse seus sapatos porque ele estava em terra santa. Jesus caminhou descalço para o Calvário. Na cultura daquele tempo, estar descalço era o sinal que você era um escravo. Um escravo não tinha direitos. Jesus nos deu o exemplo supremo de renunciar tudo por um grande objetivo.
Loren Cunningham Making Jesus Lord / Marc 8:34,35

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